Referência: 1 CORÍNTIOS 9:1-27
INTRODUÇÃO
• Paulo falou no capítulo 8 sobre a liberdade cristã. Ele argumentou que nossa ética não é conduzida pelos nossos direitos, mas pelo amor. Paulo esteve lidando com pessoas que afirmavam os seus direitos em detrimento de outrem (6:7; 8:9). Paulo havia dito para eles que isso era errado. Agora Paulo dá o seu próprio exemplo. Ele pratica o que prega.
• O capítulo 9 lida com o ensino de Paulo sobre o suporte financeiro dos obreiros. A princípio parece que ele está interrompendo o tema que iniciou no capítulo 8, sobre comida sacrificada aos ídolos. Mas longe do capítulo 9 ser uma interrupção do tema liberdade cristã, é uma ilustração pessoal. Paulo usou o seu próprio exemplo para ilustrar o que é a liberdade da graça. Ele tinha o direito de receber o sustento da igreja de Corinto, mas ele abriu mão desse direito, por um objetivo mais elevado.
• Em ordem para ilustrar o uso cristão dos direitos pessoais, Paulo apresentou dois argumentos em defesa da sua política sobre o sustento financeiro daqueles que trabalham na obra de Deus.
I. ELE DEFENDEU O SEU DIREITO DE RECEBER SUPORTE FINANCEIRO – 9:1-14
• Nos versos 1-14 Paulo deu cinco argumentos para provar seu direito em receber o sustento financeiro da igreja de Corinto.
1. Seu apostolado – v. 1-6
• Alguns crentes de Corinto questionam a autenticidade do apostolado de Paulo. Um apóstolo devia ter duas credenciais: ter visto a Jesus (Atos 1:21-22; 1 Coríntios 9:1) e realizar sinais (2 Coríntios 12:12; 1 Coríntios 9:1-2). O apóstolo era uma testemunha da ressurreição de Cristo (Atos 2:32; 3:15; 5:32; 10:39-43). Paulo tinha essas duas credenciais (1 Coríntios 15:8; 2 Coríntios 12:12).
• Paulo diz que outros podiam por à prova o seu apostolado, mas os Coríntios deviam ser os últimos a fazê-lo, porque a conversão deles era uma prova da eficácia do seu ministério e o selo do seu apostolado (9:1-2).
• Paulo alista dois direitos essenciais nos versos 4-6: 1) O direito de casar e levar consigo uma esposa no ministério itinerante; 2) O direito de não ter que trabalhar para viver. Paulo, porém trabalhou em Corinto (9:12,15), em Tessalônica (1 Tessalonicenses 2:9) e em Éfeso (Atos 20:33-34).
• Direitos, direitos, direitos – Paulo tinha muitos, mas não reclamava nenhum. Paulo renunciou voluntariamente aos seus direitos em favor de um alvo maior (9:12,19,22).
2. Experiência Humana – v. 7
• Paulo usa três metáforas comuns que descrevem o ministro cristão: 1) Soldado; 2) Lavrador; 3) Pastor. Todos os três tiram o seu sustento da sua ocupação. Seja qual for a figura do ministro, Paulo argumenta que ele tem o direito de receber o seu próprio sustento. O soldado não vai para a guerra às suas próprias custas. O lavrador não vai ao mercado comprar as frutas que ele próprio produz e o pastor tira a maior parte de sua refeição dos bens que produziu.
• Usando outras figuras, Paulo podia olhar para a igreja como um exército, como um campo ou como um rebanho. A lição era clara: o ministro cristão tem o direito de esperar os benefícios do seu labor. Se isto é verdade no âmbito secular, quanto mais no âmbito espiritual!
3. A lei do Antigo Testamento – v. 8-12
• O Antigo Testamento era a Bíblia da igreja primitiva, visto que o Novo Testamento ainda estava sendo escrito.
• Paulo citou Deuteronômio 25:4 para provar o seu ponto (1 Timóteo 5:17-18). Paulo observou o princípio espiritual deste texto da lei (9:9-10).
• 1 Coríntios 9:11 Paulo anuncia o princípio básico da vida cristã: se nós recebemos bênçãos espirituais, nós devemos em retorno, repartir bênçãos materiais. Por exemplo: Os judeus deram bênçãos espirituais aos gentios; então, os gentios tinham a obrigação de repartir bênçãos materiais com os judeus (Romanos 15:25-27; Gálatas 6:6-10).
• Paulo recebeu suporte financeiro de outras igrejas (Filipenses 4:15-16; 2 Coríntios 11:8-9;12:11-13). Na própria igreja de Corinto, outros receberam suporte financeiro (9:12), mas Paulo abriu mão desse direito para não criar obstáculo ao evangelho (9:12; 2 Tessalonicenses 3:6-9).
4. A Prática do Antigo Testamento – v. 13
• Os sacerdotes e levitas recebiam o sustento financeiro dos sacrifícios e ofertas que eram trazidos ao templo. A regulamentação que governava a parte deles nas ofertas e nos dízimos está estabelecida em Números 18:8-32; Levítico 6:14-7:36; 27:6-33. A aplicação é clara: Se os ministros do Antigo Testamento que estavam sob a lei recebiam sustento financeiro pelo povo a quem eles ministravam, não deveriam os ministros de Deus, no Novo Testamento, sob a graça, receberem também suporte financeiro?
5. O ensino de Jesus – v. 14
• Paulo estava se referindo às palavras de Jesus em Mateus 10:10 e Lucas 10:7-8: “O trabalhador é digno do seu salário.” A ordem é revestida da mais alta autoridade, visto que veio de Cristo. Paulo diz que este é um princípio fundamental que a igreja não pode negligenciar.
• Paulo certamente provou o seu ponto usando esses cinco argumentos. Seu ponto era que ele tinha o direito de receber o suporte financeiro da igreja em função do seu pastoreio da igreja. Entretanto, ele deliberadamente recusou receber suporte financeiro daquela igreja (9:12,15). Por que? Isto ele expõe na segunda parte da sua defesa, nos versos 15-27.
II. ELE DEFENDEU SEU DIREITO DE RECUSAR O SUPORTE FINANCEIRO – 9:15-27
• Paulo tinha o direito de receber suporte financeiro, mas sendo um cristão maduro, ele balanceou seu direito com sua disciplina. Ele não tinha o direito de desistir de sua liberdade em Cristo, mas ele tinha a liberdade de desistir dos seus direitos.
• Assim Paulo dá um exemplo vivo e pessoal sobre os princípios da liberdade cristã que ensinou no capítulo 8. O partido dos fortes estava pensando que o direito de comer carne era mais importante do que a edificação da igreja. Pensando apenas em seus direitos, eles sendo tropeço para os fracos. O conhecimento deles não era guiado pelo amor.
• Paulo deu três razões que explicam porque ele recusou o suporte financeiro da igreja de Corinto.
1. Ele recusou o suporte financeiro da igreja por amor ao evangelho – v. 15-18
• Paulo não deseja ser um obstáculo ao evangelho (9:12). A palavra obstáculo significa um corte, uma brecha, e era usada com referência a uma vala aberta na estrada para impedir o avanço do inimigo. Paulo não via o evangelho como um produto de mercado. Ele não era um mercadejador do evangelho. Ele não via o evangelho como uma fonte de lucro financeiro. Ele não fazia da igreja uma empresa familiar para o seu enriquecimento. Ele se recusa a aceitar dinheiro daqueles para quem ele ministrava. Ele queria que a mensagem do evangelho estivesse livre da qualquer obstáculo ou impedimento na mente dos pecadores.
• Paulo não está escrevendo esta carta para pedir suporte financeiro para a igreja (9:15).
• A recompensa de Paulo à sua obra não financeira, mas a alegria de pregar o evangelho (9:16-17).
• É uma grande tragédia quando muitos ministros dão uma super ênfase em dinheiro e estão no ministério por causa de uma motivação financeira. Isso é um escândalo e um empecilho para o crescimento do evangelho (9:18).
• Há muitas pessoas hoje que fazem da igreja um balcão de negócio. Vendem o evangelho. Estamos vivendo o ressurgimento das indulgências, agora dentro de igrejas chamadas evangélicas. Pessoas que usam a religião para explorar e controlar outros.
• Uma atitude errada quanto ao dinheiro tentou impedir o crescimento da igreja primitiva. Ananias e Safira amaram mais o dinheiro do que a verdade, por isso, Deus os matou. Simão, o mágico pensou que poderia comprar o dom do Espírito Santo com dinheiro.
2. Ele recusou o suporte financeiro da igreja por amor aos pecadores – v. 19-23
• Há aqui um grande paradoxo: livre de todos os homens e ainda servo de todos os homens (9:19). Porque Paulo era livre, ele estava capacitado a servir aos outros e renunciar aos seus próprios direitos por amor a eles.
• Muitos pensam que Paulo está sendo um crente camaleão aqui, que muda sua mensagem e método em cada situação. Muitos pensam que ele está ensinando uma vida dupla aqui, mas é bem o contrário.
• Paulo também não está ensinando aqui que podemos ajustar a mensagem para agradar ao auditório. Ele era um embaixador e não um político populista.
• Paulo ensina que precisamos ser sensíveis e flexíveis culturalmente a fim de não criarmos obstáculo ao progresso do evangelho. Ele não trombeteava sua liberdade diante dos judeus nem impunha a lei aos gentios. O que Paulo está ensinando não é um comportamento inconsistente. Ele simplesmente está ensinando diferentes abordagens para grupos diferentes. A questão não é o conteúdo, mas o método.
• Podemos ver um exemplo de sua sábia adaptação de diferentes métodos nos seus sermões no livro de Atos. Quando Paulo pregava para os judeus, ele começa com os patriarcas do Antigo Testamento, mas quando pregava aos gentios, ele começa com o Deus da criação.
• Jesus também adotou um método flexível em suas abordagens (Nicodemos, Samaritana, Zaqueu, Bartimeu).
• Nós precisamos ter tato para mantermos contato com as pessoas. Uma abordagem sensível e flexível constrói pontes em vez de erguer muros. Uma adaptabilidade criativa e sensível abre caminho para a evangelização eficaz. O grande propósito da flexibilidade metodológica de Paulo era a salvação dos judeus, dos gentios e do maior número de pessoas (9:19-23).
• Identidade racional e sensibilidade religiosa foram os dois elementos principais na dissertação de Paulo sobre a liberdade cristã.
3. Ele recusou o suporte financeiro da igreja por amor a si mesmo – v. 24-27
• Os jogos ístmicos de Corinto só perdiam em importância para os jogos olímpicos de Atenas. Havia uma olimpíada em Corinto de três em três anos. Era uma cidade onde o esporte era muito valorizado. Paulo, então, usa outra metáfora para o ministro: o ministro é um atleta cujo alvo é vencer!
• Paulo ensina com isso quatro lições:
1) A vida é uma batalha – A vida cristã não é uma colônia de férias, mas um campo de luta. Um atleta mal treinado não pode ganhar uma corrida.
2) Ganhar esta batalha e sair vitorioso desta carreira demanda uma grande disciplina – Disciplina é você abrir das coisas boas por causa das coisas melhores. O atleta precisa cuidar da sua dieta e do seu treinamento. Ele não pode se entregar às noitadas, embalado pelos prazeres e festas. Essas coisas podem ser boas, mas interferem no seu alvo maior. Assim, essas coisas são impedimento e não ajuda. Visto que o seu alvo era ganhar vidas para Jesus, Paulo disciplinou a si mesmo. Ele pagou o preço. Ele abriu mão dos seus direitos e da sua liberdade para tornar-se escravo de todos com o fim de ganhar alguns.
3) Na vida precisamos conhecer a nossa meta – Paulo tinha um grande alvo em sua vida: glorificar a Deus através da salvação dos perdidos e da edificação dos santos. Para alcançar esse alvo, precisamos pagar qualquer preço. Inclusive, abrir mão dos nossos próprios direitos. Nossa meta é agradar o Senhor. Nossa meta é salvar os perdidos. Nossa meta é recebermos a coroa incorruptível. Nossa meta é não sermos desqualificados na corrida.
4) Na vida não podemos ser usados por Deus para ganhar outros se não dominarmos a nós mesmos – O temor de Paulo não era que poderia perder a salvação, mas que poderia perder a sua coroa por não satisfazer a seu Senhor. Precisamos sacrificar ganhos imediatos por recompensas eternas, prazeres imediatos por alegrias eternas.
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