O poder do louvor está condicionado, entre outros fatores, ao propósito que temos ao realizá-lo. Para quem é o nosso louvor? Para quê entoamos nossos cânticos?
A prática religiosa está sempre envolvida pelo risco de se tornar pecaminosa e profana. Isto acontece porque a motivação e o propósito podem estar contaminados ou desviados do seu legítimo alvo.
O profeta Zacarias escreveu a respeito de alguns sacerdotes que sempre jejuavam no quinto e sétimo meses do ano, e isto foi feito durante setenta anos. O Senhor lhes questionou: "Acaso foi mesmo para mim que jejuastes? Ou quando comeis e quando bebeis, não é para vós mesmos que comeis e bebeis?" (Zc 7.5-6). Tal pergunta, partindo da boca de Deus, fere como espada.
Contudo, o Senhor estava apenas mostrando a verdade a respeito de uma religiosidade inútil.
Aqueles sacerdotes estavam jejuando para si mesmos e isto não tinha nenhum valor.
Semelhantemente, os fariseus do Novo Testamento, oravam, jejuavam e davam esmolas com o propósito de serem vistos e glorificados pelos homens.
Tais ações religiosas não tinham nenhum poder espiritual e seu único efeito era a "boa" impressão que causavam nas outras pessoas (Mt 6.1-5, 16-18).
Isto nos faz questionar todos os nossos atos relacionados a Deus. São feitos mesmo para Ele?
Ou estamos preocupados em agradar ao público?
Estamos buscando nosso próprio prazer? Será que o nosso interesse está no deleite que a música proporciona ao corpo e à alma? Se for assim, nosso propósito está errado.
É verdade que algumas músicas têm mensagens que se destinam aos participantes da reunião. São canções evangelísticas ou didáticas feitas para alcançar o público. Isto é correto e necessário.
Contudo, precisamos estar conscientes de que o propósito do nosso louvor deve ser agradar o coração de Deus. O público está em segundo lugar. Se pudermos agradá-lo enquanto louvamos ao Senhor, ótimo, mas não deve ser esta a nossa preocupação e prioridade.
Muitas pessoas se dedicam ao louvor com o propósito de buscarem glória para si mesmas.
Ocorre o mesmo fenômeno na música popular, onde a glória alcançada pelos cantores é tanta, que eles são chamados de "ídolos". E mesmo quando o cantor evangélico não está buscando tal glória, ela lhe é oferecida constantemente. É preciso então um cuidado extremo, pois estamos diante do risco da idolatria. Isto ocorre quando o homem é adorado no lugar de Deus. É incrível imaginarmos que isso pode acontecer em cultos evangélicos!
Mas não foi isso mesmo que aconteceu no céu, quando Lúcifer, que participava do louvor ao Senhor, desejou a glória para si mesmo? (Is 14:12-15; Ez.28:13). O apóstolo Paulo advertiu Timóteo, mostrando que os que trabalham na obra do Senhor correm o risco de cair na mesma condenação do Diabo (I Tm 3:6). Deus não dá a Sua glória nem a divide com ninguém (Is 42:8).
Vemos então que o assunto, além de sério, é muito grave.
No livro de Atos, temos o exemplo do rei Herodes, que, ao ser louvado pela multidão, não deu glória a Deus. Tomou para si toda a honra e por isso foi devorado por vermes (At 12:23).
Nabucodonozor, por motivo semelhante, foi humilhado e passou a pastar como os animais (Dn 4:25).
Oremos por aqueles que estão em lugar de destaque na igreja do Senhor Jesus. Não sejamos seus adoradores, pois, além de pecarmos contra o Senhor, estaremos colocando em risco o ministério e a vida dos nossos irmãos.
Outra ameaça que ronda o ministério de louvor é o interesse financeiro. Nossa relação com o dinheiro é sempre necessária e perigosa. É como a relação com o fogo. Ele faz parte da nossa vida, mas pode nos levar à morte.
A obra do Senhor precisa de recursos e isso faz com que o dinheiro seja elemento presente e importante. O problema acontece quando o dinheiro passa a ser o objetivo da obra. Se vamos realizar o louvor com o objetivo de lucro, estamos errados. O obreiro é digno do seu salário, mas a obra não deve ser feita visando o salário. E sempre que a remuneração puder ser renunciada, melhor para a obra e para a glória de Deus.
O comércio das gravações evangélicas tem crescido muito. O dinheiro que vem daí pode ser usado para missões e setores diversos da obra de Deus e isto pode ser maravilhoso. O comércio não é, em si mesmo, errado, mas traz consigo uma série de riscos, pois também representa ameaça ao legítimo propósito do louvor. Aquele que grava apenas para a obtenção de lucro pessoal, está desvirtuando o objetivo do louvor.
Nesta questão, a diferença entre o certo e o errado não é aparente. Cada ministro deve julgar a si mesmo neste assunto. Desejamos que aqueles que louvam não o façam por vanglória ou por cobiça. O pecado não serve como motivação do louvor. Seria um grande paradoxo.
"Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus". (I Cor 10:31.)
"E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai" (Col 3:17.)
"Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade." (Salmo 115:1)
Anísio Renato de Andrade
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