sábado, 29 de junho de 2013

Os riscos de se vestir com um lençol

Referência: Marcos 14.51-52

INTRODUÇÃO

1. A cidade de Jerusalém estava vivendo a noite mais dramática da sua história. Nas caladas da noite, as autoridades judaicas e romanas estavam tramando um plano maligno com a ajuda de Judas Iscariotes para prender o Carpinteiro de Nazaré, o meigo Rabi da Galiléia, o Filho de Deus, o Salvador do Mundo.

2. Jesus já estava no Getsêmani travando uma luta de sangrento suor. Ele ora com forte clamor. Ele chora e suas gotas de suor se transformam em sangue. Os discípulos dormem. O inferno lança contra Jesus suas setas mais venenosas. Jesus geme, chora, sua sangue, mas se rende completamente à vontade do Pai e se dispõe ir para a cruz, morrer em lugar da sua igreja.

3. Judas lidera a turba de sacerdotes e soldados que vão prender a Jesus. Ouve-se pelas ruas o tropel dos cascos dos cavalos. Muitas pessoas, movidas pela curiosidade abrem suas janelas. Outras, olham assustadas de dentro de suas casas. Mas um jovem, não se conteve. Do jeito que estava, enrolado em um lençol, pulou de sua cama e infiltrou-se no meio de turba para ver aquele dramático espetáculo da prisão de Jesus. Não se apercebeu que lençol não é roupa. Não se deu conta de que estava indevidamente vestido e que poderia ser desmascarado, denunciado e exposto a um vexame.

4. Viu como Jesus chamou Judas de amigo. Viu quando Pedro sacou da espada e decepou a orelha de Malco e como Jesus a restaurou. Viu como Jesus voluntariamente se entregou dizendo que havia chegado a sua hora. Viu como Jesus estava sereno, apesar do drama e começou a seguir a Jesus.

5. Este jovem é mais do que uma estatística na multidão, ele é um símbolo. Representa os seguidores ocasionais, os discípulos de plantão. Ele decidiu seguir a Jesus sem medir as consequências. Nem se apercebeu que estava apenas enrolado em um lençol, sem roupas próprias. Deu uma amnésia moral naquele moço. Curiosidade, pressa, improvisação e inconsequência foram as misturas que fizeram daquele moço um discípulo sem compromisso.

6. Quantas decepções e tragédias têm acontecido por causa dessa mistura. Quantos casamentos em desgraça. Quantos empreendimentos mal sucedidos. Quantas vidas destruídas. Tudo por causa de uma curiosidade mórbida, torpe e inconsequente.

7. Esse texto nos ensina algumas lições práticas.

I. AQUELES QUE SE COBREM DE UM LENÇOL SÃO UM SÍMBOLO DOS SEGUIDORES DE JESUS, MAS SEM COMPROMISSO

1. Segue a Jesus, mas não tem compromisso – a Bíblia nos mostra que o rapaz seguia a Jesus. Ele se tornou um discípulo casual, mas não era um verdadeiro discípulo. Faltava-lhe o compromisso com Jesus. Ele era um discípulo de improviso. Seguia Jesus movido pela curiosidade, mas não tinha aliança com ele.

2. A geração do “Fica” – Este jovem é um símbolo da nossa geração que “fica” sem compromisso. No namoro, no casamento, nas amizades, no emprego, no endereço, todo mundo está ficando. As coisas e as pessoas estão se tornando descartáveis. Hoje as pessoas estão “ficando” até com Jesus e com a Igreja. Não querem compromisso. Não firmam raízes. Não toleram o princípio da fidelidade. Aquele jovem colocou o lençol só para ver de perto e voltar para a sua cama. Era uma aproximação casual de Jesus. Nada de compromisso. Muitos estão assim hoje: aproximações temerárias, intimidades perigosas, sem nenhuma fidelidade. Muitos estão “ficando” com Jesus apenas numa noite de louvor, mas sem compromisso de fidelidade a ele. Vêm à igreja apenas em ocasiões especiais. Pensam que fazendo isso estão quites com Deus. Mas isso não é seguir a Cristo. Ser discípulo é mais do que ter emoções, estar perto. É fazer a vontade do Pai.

3. A síndrome do controle remoto – O controle remoto é o instrumento da mudança. A decisão de mudar de canal está na ponta dos seus dedos. O controle remoto favorece em muito o descomprometimento. Com o controle remoto não há fidelidade a um canal, há um interesse por tudo e por nada, porque, no final, tudo e nada foi visto. Essa mania do controle remoto acabou por se manifestar nos relacionamentos. As pessoas não conseguem ficar muito tempo com a mesma namorada, com o mesmo namorado, com o mesmo marido, com a mesma esposa, com o mesmo carro, com os mesmos amigos, na mesma igreja. Hoje os crentes dizem que Jesus satisfaz, mas vivem insatisfeitos. Vivem a procura de coisas místicas, ou se deliciar nos banquetes do mundo. Paulo diz que as os lucros do mundo tornaram-se lixo ao comparar com a sublimidade do conhecimento de Cristo. O que mais as pessoas andam buscando é prosperidade, saúde, sucesso e não intimidade com Deus. A maioria das pregações hoje falam sobre dinheiro e saúde e não sobre salvação. Quando suas expectativas não são atendidas, elas abandonam a igreja, a fogem de Jesus como a multidão de João 6 e o jovem rico. O lençol não tinha amarração, costura, nem um cinto sequer. Por isso, ele se viu em “maus lençóis”. Compromisso é amarração, costura, segurança. Vivemos hoje a geração da comodidade, do menor esforço, dos consumidores de Jesus.

II. AQUELES QUE SE COBREM COM UM LENÇOL SÃO UM SÍMBOLO DAQUELES QUE VIVEM A SUPERFICIALIDADE DA VIDA CRISTÃ

1. O lençol era a única cobertura que aquele jovem possuía. Era, portanto, um arranjo, uma proteção superficial. Não havia mais nada além daquilo que era aparente. Quando arrancaram-lhe o lençol, não havia mais nada para lhe proteger a vergonha. Segurança aparente, conforto aparente, discipulado aparente, cristianismo aparente.

2. Lençol não é roupa – A turma do lençol está tentando mostrar que podem ser o que não são. A turma do lençol é light. Tudo lhe interessa, mas de forma superficial. Tudo nela torna-se etéreo, leve, volátil, banal, permissivo. Não tem vida devocional consistente. Não tem vida de oração regular. Não tem deleite nas coisas de Deus. Aproxima-se, olha, segue, mas sem compromisso.

3. Superficialidade que gera permissividade – Nesse estado de vida superficial, as pessoas confundem sexo com amor e se tornam moralmente frágeis e permissivas. Pessoas sem filtros morais têm dificuldade para dizer NÃO, para discernir as coisas, para separar o precioso do vil. O importante para essas pessoas é a aparência.

4. A síndrome do Simão, o mágico – São aqueles que misturam as coisas de Deus com ilusão religiosa. Os samaritanos diziam: “Este homem é o poder de Deus”. Simão iludia o povo. Misturava magia com evangelho. Seu interesse era o lucro. Simão abraçou a fé. Foi batizado. Passou a acompanhar os discípulos na evangelização, mas nunca foi um convertido. Estava vestido de roupa de crente. Parecia um crente, mas não era um crente. A turma do lençol se impressiona com o que vê. Se deixa enredar pelos mágicos porque não está firmada na Palavra.

III. AQUELES QUE SE COBREM COM UM LENÇOL SÃO UM SÍMBOLO DAQUELES QUE PREFEREM O QUE DÁ CERTO EM LUGAR DO QUE É CERTO

1. O moço do lençol fez exatamente isso. Não era certo sair de lençol, mas naquele momento deu certo. Era noite, e como diz o ditado: “à noite, todos os gatos são pardos”. Naquela época, os homens usavam roupas compridas. O lençol enrolado no corpo, à noite, parecia-se com a vestimenta de qualquer homem naquele momento. A escuridão favorecia esse tipo de arranjo e jeitinho. O moço raciocinou: “Como ninguém sabe, nem está vendo, então eu vou fazer”. Nem sempre o que dá certo é certo. Sua ética é ética do momento, da conveniência.

2. A Bíblia diz em 1 Coríntios 10:23 que nem tudo que é lícito é conveniente. A bebida alcoólica é legal, lícita, porém para os filhos de Deus não convém. A pornografia está aí, em bancas de revistas, locadoras de vídeo, na televisão e no cinema. O adultério não é mais crime. O divórcio não é visto mais como algo que Deus odeia. Estamos adaptando demais a algumas coisas que dão certo no mundo. Abraão buscou um filho do seu jeito, pelo seu método e até hoje o mundo sofre as consequências. Nem sempre o que dá certo é certo.

3. A turma do lençol não se baseia nos princípios éticos da Palavra de Deus, mas naquilo que diz a sua intuição espiritual. Cada um cria a sua própria moral. O que orienta a sua vida: o que é certo ou que dá certo? Na família, nos negócios, no trabalho?

4. Há outro equívoco com a turma do lençol: a fé com base em resultados – deu certo com tal pessoa, então vamos fazer igual. A experiência de um não é a outro. Não é porque Deus fez algo em sua vida, que vai fazer igual na minha. Isso gera frustração. Deus permitiu que Tiago fosse morto à espada e livrou Pedro da prisão no mesmo contexto. Paulo foi usado por Deus para curar muitas pessoas, mas ele mesmo não foi curado do espinho na carne. Uns honram a Deus pelo livramento da morte, outros honram-no pelo livramento através da morte. É Deus quem dá a vida e quem a tira.

IV. AQUELES QUE SE COBREM COM UM LENÇOL SÃO UM SÍMBOLO DAQUELES QUE QUEREM SER DIFERENTES, MAS NÃO FAZEM A DIFERENÇA

1. Aquele jovem foi identificado como um seguidor de Jesus. Ele não estava no grupo que prendia a Jesus. Então, pensaram: ele é seguidor de Jesus. Mas quando lançaram mão dele, ele estava se cobrindo com um lençol e saiu correndo nu. Na verdade ele não era um discípulo, era um carona da fé. Assim são muitos hoje. Carregam uma Bíblia, usam camisetas com frases bíblicas, mas na hora de fazer diferença, ser sal e luz, cai o lençol e só o que se vê é uma cena risível e ao mesmo tempo lamentável. Falta à turma do lençol conteúdo interior. Falta o fruto do Espírito. Falta consistência. Faz do evangelho uma piada ou o transforma em cheque sem fundo.

2. O jogador de futebol evangélico que ao fazer um gol, levanta a camisa e mostra uma frase na camiseta: DEUS É FIEL. Depois se dirige à câmera e vocifera um monte de palavrões. Isso leva o evangelho a cair em descrédito.

3. A turma do lençol é como o profeta Jonas. Eles são contraditórios. Eles dizem que temem o Deus do céu, mas estão andando na contra-mão da vontade de Deus. Dizem que crêem em Deus, mas estão fazendo o contrário do que Deus mandou. Hoje somos quase 30% da população, mas fazemos pouca diferença. As pessoas mudam da igreja, mas não mudam da vida. Aprendem a dar glória a Deus na igreja, mas não aprendem a falar a verdade no trabalho.

4. A experiência do pastor Ariosvaldo com o cantor (N.N.) nos Estados Unidos.

V. AQUELES QUE SE COBREM COM UM LENÇOL SÃO UM SÍMBOLO DAQUELES QUE ESTÃO DESPROVIDOS DE PODER QUANDO PRECISAM SE DEFENDER

1. O jovem precisou se defender quando foi atacado. Precisou usar as mãos. Mas eram suas mãos que faziam com que o lençol aderisse ao seu corpo. Ao liberar as mãos, o lençol caiu. Ficou vulnerável, exposto, desprotegido, nu. O inimigo agarrou o lençol, a única coisa que lhe cobria. Ficou nu. Fugiu nu. Que vergonha! Ficamos em situação delicada quando o inimigo nos ataca e agarra nossa máscara. É a única coisa que nos nos protegia.

2. Pedro também usava um lençol. Não o lençol que cobria o seu corpo, mas que cobria a sua alma. Ele prometera a Jesus ir com ele à prisão e até à morte. Julga-se mais fiel e mais corajoso que os demais discípulos. Sua valentia transforma-se em consumada covardia. Agora está seguindo Jesus de longe, e negando a Jesus na casa do sumo sacerdote. Os inimigos arrancaram a máscara de Pedro e revelaram toda a sua fraqueza.

3. As máscaras não são seguras. Elas podem cair nas horas mais impróprias. Vestir-se com um lençol é um perigo. Ele pode ser arrancado pelos próprios inimigos. Ninguém consegue manter uma máscara afivelada o tempo todo. Ninguém pode vestir-se com um lençol sem ser exposto à vergonha na hora da batalha.

VI. AQUELES QUE SE COBREM COM UM LENÇOL SÃO UM SÍMBOLO DAQUELES QUE PARTICIPAM DA GLÓRIA DE DEUS, MAS NÃO CONSEGUEM MANIFESTÁ-LA EM SUAS VIDAS

1. Poucos tiveram a chance que aquele jovem teve. Ele viu Jesus. Ele viu a glória do Filho Unigênito de Deus. Aquele foi um momento decisivo na vida de Jesus. Foi sua entrega, sua renúncia, sua glória. Ele viu Jesus curando a orelha decepada do soldado Malco. Ele viu Jesus enfrentando a soldadesca romana e as autoridades judaicas com serenidade. Mas aquele jovem apesar de ver a glória de Jesus, fugiu nu, sem manifestar a glória de Deus em sua vida.

2. A glória de Deus na Antiga Dispensação encheu o tabernáculo, o templo. Mas depois que o véu do templo foi rasgado, o Espírito Santo e a glória de Deus enchem não um templo, não uma casa, mas pessoas. Outro dia, uma pessoa veio me contar empolgada que os crentes da sua igreja estavam indo para uma mata ver os gravetos pegando fogo. No cenáculo o fogo não estava nos bancos, no chão, ou em outros objetos do ambiente. O fogo estava sobre os crentes. Eles estavam incendiados pela glória de Deus. Dali por diante, eles começaram a espalhar o fogo de Deus pelo mundo. Hoje as pessoas querem ver a glória de Deus se manifestando, estando correndo atrás de um espetáculo religioso, mas não manifestam em suas vidas a glória de Deus.

3. A turma do lençol está apagada porque só quer ver a glória de Deus. Só quer ver espetáculo, mas não reflete a glória de Deus na vida, na conduta. A busca do entretenimento, do espetáculo entrou no campo religioso. As pessoas hoje transformam culto em show, adoração em espetáculo. Elas querem o brilho, não o preço do discipulado.

VII. QUAIS SÃO AS VESTIMENTAS ESPIRITUAIS APROPRIADAS PARA UM SEGUIDOR DE CRISTO?

1. Vestes de louvor (Is 61:3) – Usar vestes de louvor não é apenas caminhar pela vida cantando, mas viver de forma que Deus seja glorificado em nossa vida. Em vez de viver sob o manto da tristeza e do espírito angustiado, exalte ao Senhor, glorifique o seu nome em toda circunstância.

2. Vestes de salvação (Is 61:10) – Você não pode apenas aparentar um seguidor de Cristo. Ver a caravana passar não significa que você está passando com ela. Assistir o espetáculo não significada que você faz parte do enredo. Estar presente no meio da multidão, não significa que você é um discípulo. Não se contente apenas em ser um expectador do Reino, seja um súdito do Reino. Certifique-se de que você já tem as vestes da salvação, pois quem não as tiver será lançado fora no dia do Senhor.

3. Vestiduras brancas (Ap 7; 19) – As vestes brancas dos remidos fala da justiça de Cristo imputada a nós. Nossa justiça aos olhos de Deus não passa de trapos de imundícia. Mas Cristo tira os nossos farrapos imundos e nos veste com a sua justiça. Deus olha para nós e vê toda a justiça do seu Filho nos cobrindo. Por isso não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus.

CONCLUSÃO

1. “Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha” (Ap 16:15).

2. “Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda” (1 Jo 2:28).

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