terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A VERDADEIRA BATALHA


Um amigo meu está neste exato momento lutando a batalha de sua vida - e neste momento ele está perdendo. O lado escuro parece estar ganhando.
Ele virou suas costas a sua esposa, filhos e ministério para continuar a experimentar a satisfação que está encontrando em seu relacionamento com outra mulher. A satisfação não é sexual. Isso seria mais fácil de explicar e contra-argumentar.

Ele descreve sua experiência como alegria da alma; a profunda sensação de sentir-se vivo, conectado e querido; uma intensa sensação de preenchimento realmente sentida por ele, que o seguir a Cristo (da melhor maneira que ele soube) séria e fervorosamente durante décadas nunca pôde proporcionar. Ele se vê como feito para esta alegria e só consegue perceber duas opções: perseguir a experiência e afastar-se daquilo que ele sempre entendeu como mandamento Bíblico ou voltar à comunidade Cristã e desistir de toda esperança de alegria profunda nesta vida. Essa é a maneira como ele vê as coisas. Como eu deveria responder?
Como eu deveria orar? Como a comunidade da família e amigos que o amam e não deveriam desistir dele - deveria responder? Como nós deveríamos orar?

Quando era mais jovem, lembro-me de convencer a mim mesmo de que o puro prazer de ir para casa ao encontro de minha esposa sem ter assistido à pornografia na TV do hotel, era suficiente para me manter no reto e estreito caminho. O argumento é tipicamente `Cristão
´: a sensação de alegria na obediência excede a sensação de prazer no pecado. Nós ouvimos isso o tempo todo.

Mas isso só é verdade quando, como no meu caso, eu realmente gosto da minha esposa. Enquanto eu recebo bênçãos com as quais sinceramente me alegro, então o caminho moral me permite continuar me alegrando com essas bênçãos. Mas, perceba: essa alegria não significa alegrar-se em Deus. Ela significa alegrar-se nas bênçãos. Retire as bênçãos e dê ao homem uma esposa da qual por qualquer que seja o conjunto de razões ele não gosta, então os prazeres do pecado podem exceder aos prazeres da santidade.

O antigo hino diz: `Há alegria em servir a Jesus
´. E há. Mas se nós estamos contando com uma experiência de satisfação da alma para confiantemente acompanhar a obediência e se esperamos que o prazer que sentimos ao fazer o bem irá exceder ao prazer que poderíamos sentir ao nos permitir nosso pecado favorito, então não levará muito tempo até que o pecado pareça irresistível.

Esta é a questão: se vivemos por uma experiência de prazer; se colocamos o desejo em um pedestal e vivemos por nada mais elevado que sua satisfação, então não vivemos mais por fé. Somos idólatras adorando o desejo. Não estamos mais vivendo para Deus.

Concordo com Jonathan Edwards que não existe incompatibilidade entre nosso insaciável desejo por felicidade e o mandamento para adorar a Deus. Mas se Deus se torna os meios e nossa felicidade os fins, então nós somos pragmáticos auto-obcecados; e não adoradores. Quando Deus é o alvo, e a obediência, planejada para dar prazer a ele, se torna o foco, certamente haverá uma alegria plena que torna o pecado impensável e feio; totalmente repulsivo.

Mas aquela alegria plena vem mais tarde; no céu. Nesta vida, isso é mais uma questão de esperança que de alegria. A alegria agora está envolta em comungar com o Filho em Seu deleite no Pai; comungar com o Pai em sua exaltação do Filho, e comungar com o Espírito em Sua obsessão em ver o Pai e o Filho glorificados. Mas essa alegria, apesar de real e crescente, não estará completa até que estejamos literalmente na presença da Trindade, dançando eternamente em perfeito ritmo e inexprimível êxtase (veja Ef. 3. 19). Nesta vida, agora, vivemos pela fé, e pela fé nos alegramos em Jesus, mesmo quando segui-lo implique sofrimento. Claro que existem períodos de grande alegria, e uma permanente sensação de que pertencemos à Pessoa mais maravilhosa do universo; que o privilégio de conhecê-lo realmente excede todas as outras bênçãos, quer sintamos isso ou não; e que viver para ele é nosso maior desejo. Mas se estamos vivendo para o sentido máximo de satisfação prazerosa, agora, só obedeceremos a Deus se ele nos conceder bênçãos que a obediência nos permita continuar a desfrutar. Remova as bênçãos e viva a vida para obter satisfação, ainda que dos mais nobres desejos humanos, e com o tempo você irá se descobrir afastando-se de Deus.

Uma heresia predominante na cultura evangélica diz que viver para Jesus supre consistentemente a alma com uma profundidade de satisfação que excede a satisfação encontrada no pecado. É essa heresia que mantém um pastor que conheço motivado em seu ministério. Ele trabalha longas horas, é estudioso, é disciplinado em seus hábitos, sua igreja está crescendo, é altamente respeitado - e ele continua vivendo a vida `Cristã
´ porque ela o mantém sentindo-se importante e vivo. Ele está vivendo para a satisfação de seus desejos, não para Deus. Isso acontece de tal forma que o que poderíamos chamar de estilo de vida Cristão dá a ele prazer suficiente para continuar. E assim ele vai, como um camundongo em uma esteira, sentindo uma letargia que ele confunde com o preço do discipulado.

Deixe-o tornar-se suficientemente honesto para encarar o vazio em sua alma, que todo peregrino consciente sente (a Bíblia chama isso de gemido) e, ao mesmo tempo, mantenha-o acreditando na mentira de que servir a Jesus deve aliviar o vazio, e eis aí um pastor no ponto para ter um caso, ou ainda, exaurido, ou com uma dose extra de legalismo.
Satanás tem uma oportunidade de ouro para apresentar a ele a mulher certa, que pode tornar-se sua alma gêmea (na verdade `carne gêmea
´), e o apelo será uma experiência irresistível. Ou o pastor vai ficar desiludido e desistir, ou ele poderá tornar-se mais rígido e relacionalmente frio, e mais dedicado e exigente em seu papel como líder espiritual.

Nós estamos tentando pra valer, nos círculos Cristãos, nos convencermos de que mesmo sem a visão do céu, a vida Cristã vale a pena ser vivida.
Mas não vale. A não ser que, como eu, você tenha sido abençoado com uma esposa de quem genuinamente goste; filhos que deleitam seu coração; um trabalho ou ministério que lhe traga significado e sustento; e boa saúde. Então, fazer a coisa certa faz sentido, conquanto as bênçãos continuem acontecendo. Por que abrir mão dos prazeres que você tem? A vida Cristã, dessa forma, torna-se pragmaticamente inteligente.

Mas, mexa nas bênçãos; deixe que algumas coisas dêem errado o suficiente para que o prazer que você sente nelas seja reduzido a uma intensidade menor que o prazer advindo de princípios Cristãos frouxos, e fazer o que quer que seja o faz sentir-se vivo; fazer o errado vai parecer justificável, necessário, legítimo, lógico. O caminho errado vai parecer certo. Este cenário tem levado um número incontável de pessoas ao divórcio.

A verdadeira batalha na alma humana que conhece Jesus, não é encontrar uma maneira de sentir agora o que almejamos sentir nas profundezas de nosso ser, quer seja amor, significado ou a satisfação de viver uma outra vida centrada no serviço de uma causa maior que a si mesmo. A verdadeira batalha é manter a fé mesmo quando a fé não traz nenhuma experiência imediata de prazer, mesmo quando ela não traz nenhuma esperança de sentimento de prazer a não ser no céu. É isso que significa viver pela fé. Esta é a mensagem de Hebreus 11. Esta é a pedra angular do evangelho, declarada pela primeira vez por Habacuque quando ele citou Deus dizendo: `O justo viverá pela fé
´ (Hab. 2. 4), e reconhecida por Paulo como o coração da jornada espiritual.

Meu amigo seguiu a Jesus por várias décadas. Isso não `funcionou
´. Ele esperava poder sentir uma satisfação avassaladora que faria com que resistir ao pecado pudesse ser tão fácil quanto fazer comida de cachorro se passar por um belo churrasco. Ele acreditava na heresia predominante da igreja evangélica de que a experiência da satisfação é para já; que viver pela fé não retarda a satisfação na esperança, mas traz satisfação na experiência. Ele descobriu que uma mulher que não era da vontade de Deus para ele, para lhe dar plena alegria, lhe trazia mais alegria à alma que qualquer coisa que ele tivesse conhecido em anos de fidelidade à vontade de Deus. Para ele, o chamado à obediência significava abrir mão da alegria e voltar ao Cristianismo sem vida.

O errado mas popular ensino que diz haver uma maneira de sentir-se tão vivo em Deus que o pecado perde seu apelo, e que buscar a experiência de sentir-se vivo é o centro genuíno da aventura espiritual, não o ajudou.
Esse ensino é muito perigoso; ainda mais por estar tão próximo da verdade. Conhecer a Deus é vida. Mas viver para sentir-se vivo não é o mesmo que viver para conhecer e glorificar a Deus. Quando se atinge o limite, a questão não é ter uma experiência de extrema alegria em conhecer a Jesus. Isso vai acontecer mais tarde. Pode até acontecer agora. Se acontecer, louve a Deus. Quando se atinge o limite, a questão é fé: em que você deposita sua fé mais profunda? Como então você deverá viver? O Céu está chegando. Somente esse fato faz sentido na escolha de perseverar quando as bênçãos cessam, quando o vazio parece não ter fim, quando a angústia da alma eclipsa até mesmo a esperança de alegria.

Combatendo a Batalha através da Oração
Se a verdadeira batalha é evitar criar um ídolo de desejo, se a verdadeira batalha é deixar que nossas escolhas sejam dirigidas por um desejo por Deus que às vezes nos deixa vazios e solitários, então, ainda que possamos verdadeiramente comemorar quaisquer que sejam as bênçãos que venham ao nosso encontro e aproveitar o prazer que elas nos proporcionam, nós nunca devemos depositar esse prazer no banco e emitir cheques dessa conta. Devemos, sim, crer em Cristo quando a vida não faz sentido; quando o pecado faz um melhor trabalho aliviando nosso vazio do que o viver corretamente. Devemos emitir cheques da conta da fé. Nossa esperança deve estar fixada em Jesus, e na esperança que sua presença traz; e não na satisfação de desejo nesta vida.

Com aquele lento e crescente entendimento da batalha que está acontecendo em mim e em meu irmão, eu devo orar. Eu devo me engajar em batalha de oração, do tipo que nos desafia/entusiasma pelo reconhecimento de que a batalha espiritual é travada entre a exigência por satisfação e a vida de fé.
Minha versão de oração no sentido de batalha é imaginar meu amigo na presença da Trindade e bisbilhotar a conversa deles. Eu digo não ouvir nem vozes audíveis nem mensagens completas. Eu simplesmente reflito naquilo que conheço de Deus como está revelado nas escrituras - o amor incondicional do Pai, a harmoniosa graça do Filho, o terno ritmo do Espírito - e imagino o que eles estão dizendo ao meu amigo neste exato momento e qual é o sentimento e o pensamento deles a seu respeito.
Quaisquer que sejam as impressões que me venham à mente eu registro, considero e tento colocar em palavras.

Eu oro por meu amigo, que está a ponto de jogar fora uma vida de fé em favor da experiência de satisfação de desejo. Eu não oro para que ele sinta mais alegria em seguir a Cristo do que a sentida no pecado. Eu oro para que ele possa estar em contato com um desejo de conhecer a Deus que é mais forte que seu desejo por uma experiência momentânea de alegria e vida. Eu o imagino na presença da Trindade. Percebo a dor deles à medida que seu filho dá mais valor à experiência com uma mulher que não é sua esposa do que à esperança que eles prometeram; a esperança que custou a morte de Jesus para ser oferecida.

Eu passei as primeiras horas da noite contando a ele o que ouvi. Ele me telefonou um dia depois; disse que estava terminando seu relacionamento com essa mulher. Suas palavras foram: `Eu só consigo explicar minha decisão como o trabalhar de Deus através da oração. Parece terrível, mas de uma maneira muito estranha é isto que eu quero fazer
´. Desde então eu soube que ele reatou o relacionamento com sua `carne gêmea´.

Eu acho que a heresia continua viva em sua mente; que talvez ele ainda acredite que as escolhas que fazemos deveriam ser determinadas pela alegria que elas trarão nesta vida. Será que ele pensa que se sentirá melhor depois de ter desistido da outra mulher? Que ele vai experimentar um turbilhão de alegria que fará com que o prazer que ele sente com a outra mulher seja ofuscado? E a outra mulher crê sinceramente que está entrando em um relacionamento com um homem forte, que irá despejar força e vida em sua alma? Eu não sei. Ele vai de fato desistir dela? Ou voltará para ela quando descobrir que sua alma sentiu-se mais viva com ela do que seguindo a Deus? Novamente, eu não sei.

Então, eu continuo orando. Oração é batalha. *

Larry Crabb, traduzido por Samuel Cruz

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